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quinta-feira, 7 de maio de 2015

Exemplo de estudo transversal

Exemplo:


Este exemplo é retirado e adaptado do seguinte sítio da internet:http://stat2.med.up.pt/cursop/print_script.php3?capitulo=desenhos_estudo&numero=6&titulo=Desenhos%20de%20estudo

Um investigador fez um estudo transversal para conhecer qual a prevalência de infecção por Clamídia na população. Além disso, o pesquisador desejava saber qual a relação da prevalência com o uso de anticoncepcionais orais

Para isso, o investigador definiu a população em estudo, ou seja, a população-alvo, neste caso, as mulheres atendidas num determinado Serviço de Ginecologia de um Hospital Central. Em seguida, selecionou uma amostra de 200 mulheres

Em seguida, o pesquisador escolheu as características que queria estudar através do registo da história de uso de anticoncepcionais orais no último ano. Realizou, também, swab vaginal para posterior exame microbiológico. 

O pesquisador demorou cerca de 6 meses para examinar todas as mulheres pertencentes à amostra. 

Os resultados obtidos foram: 

  • 100 mulheres apresentavam história de uso de anticoncepcionais orais no último ano, tendo 20 delas exames de cultura para Clamídia positivo; ou seja, das expostas ao uso de anticoncepcional, 20% apresentaram teste positivo (prevalência de 20%)
  • 100 mulheres não tinham história de uso de anticoncepcionais orais, apresentando 10 delas exames de cultura positivos; ou seja, das não expostas ao uso de anticoncepcional, 10% apresentaram teste positivo (prevalência de 10%)
  • 200 mulheres das quais 30 apresentaram teste positivo (prevalência de 15%)


Assim, a prevalência de infecção por Clamídia nessa amostra foi de 15%.

Há forte evidência de associação entre o uso de anticoncepcionais orais e a presença de infecção por Clamídia, com uma razão de prevalência (RP) de 0,20/0,10=2,0. Ou seja, a prevalência entre as expostas é o dobro das não expostas.


Neste exemplo encontra-se uma importante medida de frequência que é, caracteristicamente, encontrada em estudos transversais - a prevalência (de fato, este tipo de estudo é muitas vezes designado de "estudos de prevalência", conforme já mencionado). 

No exemplo, encontramos, também, uma medida de associação - a razão entre a prevalência da doença nos indivíduos que possuem o fator em estudo (ou o fator de exposição) e a prevalência da doença nos que não o possuem, podendo, assim, ser, também, designado por razão de prevalência (RP)

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Vantagens do estudo transversal 

fonte: http://stat2.med.up.pt/cursop/print_script.php3?capitulo=desenhos_estudo&numero=6&titulo=Desenhos%20de%20estudo 


  • mais rápidos, mais baratos, mais fáceis em termos logísticos;
  • não são sensíveis a problemas como as perdas de seguimento e outros, característicos dos estudos longitudinais. Esta vantagem ficará mais clara a partir da descrição dos outros tipos de estudo. 
  • São mais facilmente generalizáveis do que outros. Isso também ficará mais claro a partir do estudo de outros desenhos de estudo.

Desvantagens



  • A maior desvantagem dos estudos transversais está associada com a impossibilidade de estabelecer relações causais por não ser possível, por meio deste desenho, estabelecer a existência de uma sequência temporal entre exposição ao fator e o subsequente desenvolvimento da doença.
  • Estes estudos são pouco práticos no estudo de doenças raras, uma vez que estas obrigam à seleção de amostras muito numerosas.
  • Só se poder medir a prevalência, e não a incidência, tornando limitada a informação produzida por este tipo de estudos quanto à história natural das doenças e ao seu prognóstico.
  • São susceptíveis aos chamados vieses de prevalência/incidência que acontecem quando o efeito de determinados fatores relacionados com a duração da doença é confundido com um efeito na ocorrência da doença. Por exemplo, num estudo realizado na década de 1970 encontrou-se uma grande frequência de antigénio linfocitário humano A2 (HLA-A2) entre crianças que sofriam de leucemia linfocítica aguda (LLA) e os investigadores concluíram que as crianças com este tipo de HLA tinham um risco aumentado de desenvolver esta doença. Estudos subsequentes demonstraram, contudo, que o HLA-A2 não era um fator de risco para o desenvolvimento da LLA, mas sim, um fator que estava associado a um melhor prognóstico em crianças com esta doença. Assim, a maior sobrevida dos doentes com HLA-A2 fazia com que na amostra de doentes do estudo transversal houvesse uma maior probabilidade de encontrar doentes com este tipo de HLA em comparação com os outros tipos. Observou-se, assim, que uma aparente maior incidência era na realidade o efeito de uma maior prevalência em decorrência de um melhor prognóstico.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Desenho de Estudo: estudo observacionais e estudos experimentais

Estudos Experimentais e Estudos Observacionais: breve comparação

O objetivo central da investigação epidemiológica é encontrar qual a causa de determinado efeito de eventos ligados à saúde de populações.

O experimento controlado, especialmente na ciência animal, é a forma mais direta e com menor viés de tentar buscar essa resposta. Sabe-se que viés é um erro sistemático na condução de um experimento.


Partindo de uma hipótese, o pesquisador que conduz o experimento faz acontecer uma ação (causa) no sentido de perceber qual a sua consequência (efeito). Idealmente, o pesquisador modifica a causa medindo o efeito enquanto, simultaneamente, controla todas as condições que podem afetar o efeito em estudo. 


Esta forma de controlar a causa permite concluir com maior grau de certeza que o efeito resultou da causa.

No estudo de uma relação de causa-efeito, o estudo experimental (ou experimento controlado) - que assume, em epidemiologia, as formas de ensaio clínico, ensaio de campo e ensaio comunitário - é aceita como padrão ouro no meio científico.

De fato, essa aceitação, quase universal, não ocorre por acaso. Todos os estudos epidemiológicos têm a sua origem nos conceitos de experimento natural. Quando o experimento é exequível, são realizados estudos experimentais; quando não pode ser feito o estudo experimental, é feita a opção por estudos observacionais para avaliar o que teria acontecido caso tivesse ocorrido tal experiência.

Por que um estudo experimental pode ser inexequível? Dado o envolvimento de seres humanos, o uso da experimentação, embora desejável, nem sempre é de execução razoável. Surgem questões éticas. 

Seria razoável submeter um grupo de pessoas à fome e não submeter outro grupo para estudar o efeito da fome sobre uma doença específica? Seria razoável designar um grupo de pessoas à poluição sonora e não submeter outro grupo para verificar algum efeito sobre a audição ou sobre algum transtorno mental? A resposta é claramente não. 

É nesta lacuna ética experimental que os avanços metodológicos da epidemiologia observacional cresceram nos últimos anos. Sobre questões éticas em estudos observacionais, leia, se desejar se aprofundar: http://www.portalbioetica.com.br/adm/artigos/epidemiologica_zoboli.pdf

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Entendido porque podem ser preferíveis estudos observacionais a outros, a grande questão acerca dos estudos observacionais versus experimentais refere-se a sua capacidade para demonstrar uma relação de causa-efeito. É necessário compreender o que são os vieses (erros sistemáticos) que estes estudos podem conter e que podem colocar em questão a sua própria validade interna.

Fonte: http://www.actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/amp/article/download/3975/3223